Tendo em fundo as imponentes e áridas montanhas do Atlas, às portas do deserto, na Argélia no início da guerra da independência face à França, este filme foge a sete pés de qualquer ajuste de contas com o passado, embora não se furte a abordar o património doloroso comum das civilizações em conflito. Mais do que qualquer apego ou negação dos modelos vividos no passado, o filme preocupa-se em revelar os trilhos alternativos de um futuro por descobrir. É significativo que um professor, Ex militar da potência colonizadora e uma escola de crianças no meio de nada, constituam o microcosmos, o laboratório de tudo o que está aqui em questão: em primeiro lugar a diferença, a comunicabilidade e a identidade. O novo e o velho. O passado e o futuro. E na escola, onde tudo parece decidir-se, a cultura francesa (e Ocidental) adotada pelos colonos e imposta aos nativos, tão celebrada e enfatizada no início do filme, dá no fim o lugar à língua e cultura árabe, como escolha anunciadora de um caminho diferente. O mesmo caminho, de resto também escolhido pelo “Árabe”, que optou por virar as costas à “cidade”, simbolo do ocidente e escolhendo o oriente identitário, na incerteza e aridez do deserto. E onde, de resto, não parece ter lugar esse professor, no fundo, ele também rejeitando ser o guardião da velha ordem colonial. Em suma um belíssimo filme sobre a descoberta da identidade e sobre escolhas, de lados, de crenças, e de destinos. Um filme onde todos os ingredientes se casam para proporcionar uma excitante experiência de cinema: o argumento inteligente que bebe naturalmente do realismo do absurdo de Camus, também ele um Argelino “afrancesado”, contemporâneo dos acontecimentos relatados no filme ; uma fotografia de cortar a respiração com planos de uma clareza imaculada, embalados por uma música inspirada e inspiradora de Nick Cave e Warren Ellis; e por fim, mas não menos importante, um senhor actor como Viggo Mortensen, um americano “atípico”, de muitas pátrias e identidades, a melhor escolha para protagonista deste filme, que no fundo é visto por nós através dos seus olhos…
Tendo em fundo as imponentes e áridas montanhas do Atlas, às portas do deserto, na Argélia no início da guerra da independência face à França, este filme foge a sete pés de qualquer ajuste de contas com o passado, embora não se furte a abordar o património doloroso comum das civilizações em conflito.
ResponderEliminarMais do que qualquer apego ou negação dos modelos vividos no passado, o filme preocupa-se em revelar os trilhos alternativos de um futuro por descobrir.
É significativo que um professor, Ex militar da potência colonizadora e uma escola de crianças no meio de nada, constituam o microcosmos, o laboratório de tudo o que está aqui em questão: em primeiro lugar a diferença, a comunicabilidade e a identidade. O novo e o velho. O passado e o futuro.
E na escola, onde tudo parece decidir-se, a cultura francesa (e Ocidental) adotada pelos colonos e imposta aos nativos, tão celebrada e enfatizada no início do filme, dá no fim o lugar à língua e cultura árabe, como escolha anunciadora de um caminho diferente. O mesmo caminho, de resto também escolhido pelo “Árabe”, que optou por virar as costas à “cidade”, simbolo do ocidente e escolhendo o oriente identitário, na incerteza e aridez do deserto. E onde, de resto, não parece ter lugar esse professor, no fundo, ele também rejeitando ser o guardião da velha ordem colonial.
Em suma um belíssimo filme sobre a descoberta da identidade e sobre escolhas, de lados, de crenças, e de destinos.
Um filme onde todos os ingredientes se casam para proporcionar uma excitante experiência de cinema: o argumento inteligente que bebe naturalmente do realismo do absurdo de Camus, também ele um Argelino “afrancesado”, contemporâneo dos acontecimentos relatados no filme ; uma fotografia de cortar a respiração com planos de uma clareza imaculada, embalados por uma música inspirada e inspiradora de Nick Cave e Warren Ellis; e por fim, mas não menos importante, um senhor actor como Viggo Mortensen, um americano “atípico”, de muitas pátrias e identidades, a melhor escolha para protagonista deste filme, que no fundo é visto por nós através dos seus olhos…